Outubro é o mês da conscientização e sensibilização da perda gestacional, neonatal e infantil, hoje vamos falar mais sobre o assunto.
Já falamos algumas vezes sobre o tema luto, mas vale relembrar que é uma experiência única para cada pessoa, que ocorre após um vínculo ser rompido. 
O luto tem como objetivo nos ajudar a elaborar a perda, ainda é um tabu falar sobre o assunto, mas podemos dizer que pós pandemia do COVID-19 estes tabus começaram a ser rompidos e abriu portas para falarmos mais sobre o assunto.
Como costumam lidar com a perda gestacional, neonatal ou infantil?
Em um mundo corrido, marcado por praticidade, rapidez e eficiência, nem sempre a pessoa tem a abertura para vivenciar seu luto, passar por todo o processo, sentir sua dor, elaborar e ressignificar a ausência física do vínculo perdido.
Sermos positivos e empáticos são cobranças constantes, mas é difícil se colocar no lugar do outro quando este está em sofrimento.
Agora imagine só um casal, que planejou, idealizou e enfim passou a gestar um bebê, imagine ainda que em algum momento desta gestação possa existir uma perda gestacional, neonatal ou até mesmo infantil, quão paralisante e desestruturados estes pais podem ficar? Muitas vezes faltam palavras para descrever a dor que sentem.
 
A rede de apoio pode ajudar o enlutado?
Em qualquer processo de luto é essencial a rede de apoio, não estamos dizendo que é preciso frases prontas, muitas vezes somente a presença, permitir que esta mãe fale sobre sua dor, chore, fique sim indignada, até mesmo em silêncio, é uma forma de acolhimento.
O papel principal da rede de apoio é o acolhimento sem julgamentos e com respeito ao luto. Familiares, amigos, vizinhos, religiosos, especialistas, outros enlutados, podem fazer parte desta rede de apoio.
Existe um tempo cronológico para o processo do luto de uma mãe e um pai após a perda de um filho?
O LUTO NÃO TEM FASES, apressar o processo da elaboração do luto, pressionar, limitar o enlutado, pode intensificar e prolongar o processo, podendo inclusive se confundir com doenças mentais como a depressão, não existe um tempo cronológico para o luto.
Como já citamos em outros textos, existem os lutos não reconhecidos, e infelizmente na nossa sociedade ainda é invalidada por algumas pessoas a perda gestacional, perinatal e neonatal. 
Questões físicas e emocionais diante da perda gestacional:
Existem mudanças corporais perceptíveis durante uma gestação, como o aumento da barriga, dos seios e alguns sintomas como os enjoos, mas além destas mudanças perceptíveis, acontecem muitas mudanças internas, hormonais, neurobiológicas, as mudanças de humor podem ser comuns também, inclusive no pós parto, podendo durar até os 6 anos da criança.
Enfrentar o puerpério já é muito desafiador e vivenciar junto com o luto da perda do bebê pode trazer vários efeitos na saúde mental.
Quais fatores podem influenciar nas alterações neurobiológicas da mãe após a perda do seu bebê?
• Resiliencia psicológica
• Mecanismos de enfrentamento
• Apoio social (rede de apoio)
• Espiritualidade
• História pessoal de perdas
• Idade gestacional
• Causa da morte do bebê
• Saude mental da mãe
O cérebro do pai também pode passar por mudanças diante do luto, intensificando respostas ao estresse, podendo também afetar sua saúde física e emocional. 
Quando se trata de perdas gestacionais, o foco principal é na mãe, que por vezes não pode nem participar dos rituais de despedida do bebê devido a sua possível condição física (pós parto), ainda pode acontecer a produção do leite, sobrecarregando emocionalmente ainda mais esta mãe, com sensações e incomodos físicos.
Infelizmente ainda acontece de pais que perdem filhos em algum estágio da gestação recebem menos compaixão do que aqueles que perdem após o nascimento, ainda existe muito julgamento e não reconhecimento da dor.
A falta de memórias palpáveis podem agravar ainda mais o processo do luto, quando se perde um filho ao qual se conviveu, podem existir fotos e lembranças que com o tempo ajudam a amenizar a dor e a saudade.
O que pode ajudar um enlutado a passar pelo processo de elaboração do seu luto gestacional, neonatal?
• Atividade física (quando liberada pelo seu médico);
• Escrever um diário sobre o que sente, sobre o que sentiu na gestação e com a perda;
• Quando possível, confeccionar um album de fotos da sua gestação, dos ultrassons;
• Buscar a companhia de quem te faça bem e te respeite;
• Se tiver vontade, mantenha rituais nas datas significativas, como plantar uma árvore, soltar um balão, fazer uma oração;
• Se aprofundar na sua espiritualidade;
• Pense não no que é socialmente “normal”, mas sim no que faz sentido e te faz bem neste momento;
• Participe de grupos de pais enlutados, dividir as dores pode ajduar a ressignificar;
• Tudo bem também não querer socializar, não querer falar do assunto;
• Mas se sentir vontade de falar, filtre o que vai ouvir das pessoas, a maioria não sabe lidar com a dor e o choro, e isto pode te frustrar, não é por mal, mas sim pela nossa cultura sobre a morte e o luto;
• E por este motivo, é importante buscar por terapia
Aos poucos você vai ressignificando, colocando cada sentimento no seu lugar, a dor da perda vai permanecer para sempre, as lembranças e memórias também, com o passar dos dias, dos anos, você consegue elaborar.
Sobre ter outro filho, quando é a hora certa após uma perda gestacional, neonatal, infantil?
Não existe uma resposta certa para esta pergunta, é importante elaborar sua dor e sua perda, para não usar uma nova gestação como “cura” para a perda anterior, para um alívio de dor.
A decisão de ter ou não outro bebê caberá somente a você e seu companheiro (a), é possível que o medo tente tomar conta desta decisão, e até mesmo quando acontecer o “positivo”, respeitem o tempo de vocês, inclusive para estes medos.
E se ainda tem dúvidas sobre o assunto e não consegue lidar sozinha (o) com seu luto e sua dor, PROCURE AJUDA, FAÇA TERAPIA.

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