No mês da campanha de prevenção ao suicídio, vamos falar sobre o alto índice de depressão e suicídio nos portadores de TEA nível 1 – Leve.
TEA é um assunto que vem sendo amplamente estudado atualmente e através de pesquisas foi descoberto que as pessoas que sofrem com o Transtorno de Espectro Autista (TEA) são quatro vezes mais propensas a sofrer com depressão ao longo da vida. E qual será o motivo? Anteriormente escrevemos aqui sobre o TEA e seus níveis. E hoje vamos explicar a relação desse transtorno com outros transtornos mentais (de ansiedade, de sono, de exaustão, etc), que muitas vezes acarretam na depressão e consequentemente suicídio dos portadores de TEA, principalmente os de grau leve.
Como é a vida de quem tem TEA nível 1 – Leve?
Muitas pessoas adultas ainda não receberam o diagnóstico de TEA porque em 2022 teve uma mudança no CID (hiperlink) e outras doenças passaram também a englobar o Transtosno de Espectro Autista, como por exemplo a Síndrome de Asperger. Com a mudança da classificação de doenças, veio a atualização de sintomas considerados parte do transtorno e muita gente que antes não tinha um diagnóstico ou com diagnóstico da síndrome de aspenger passaram a se enquadrar no TEA.
No quadro leve do transtorno a pessoa é independente, porém com suas características acabam sentindo que não se encaixam no mundo.
São pessoas que tem dificuldade de socialização. Socializar para elas exige muito esforço, pois estão o tempo todo preocupadas se estão agindo bem perante a sociedade/o que esperam dela e ao mesmo tempo têm extrema dificuldade de interpretação dos sentimentos, ações e palavras dos outros. Ambas as características podem levar o indivíduo a pensamentos intrusivos, obsessivos e também ao esgotamento mental. Quando falamos de socialização/sociedade podemos incluir relações amorosas, relações de amizade e relações de trabalho.
Viver tais relações costuma ser exaustivo e por isso, muitos acabam evitando esse tipo de contato. Sendo assim, não é incomum que sejam pessoas mais sozinhas desde a infância e que também preferem trabalhar sozinhas.
São pessoas que para se organizar melhor do lado de dentro, tem um controle excessivo com o lado de fora. Desta maneira, a rotina é algo sagrado pra eles e quando minimamente quebrada pode desorganizá-los por completo, o que muitas vezes pode parecer estranho para a sociedade. Lidar com imprevistos, por menores que sejam, para eles pode ser algo demasiadamente difícil. Quando falamos sobre sair da rotina podemos incluir fazer viagens (são muitos imprevistos) e sair para restaurantes novos (além de tirá-lo da rotina tem o medo do desconhecido). Inclusive, a seletividade alimentar pode fazer parte dos sintomas de quem tem o TEA. É muito comum que tenham muitas restrições alimentares por terem problemas com as texturas, cheiros e aspectos da comida. Mais pontos que pode o fazer se excluir da sociedade, por sentir que não consegue se incluir no que é esperado dele.
São pessoas extremamente racionais, com dificuldade de entender sentimentos e usar a imaginação. Por exemplo, alguém com TEA pode não conseguir entender se o que sente é amor ou carinho, raiva ou tristeza, felicidade ou alívio.
Tendem a ter hiperfoco em assuntos de seu interesse. Ou seja, se aprofundam nele até a exaustão. Com isso, acabam tendo seletividade na hora de conversar sobre assuntos. Muitas vezes os assuntos propostos em sociedade não interessam e esse se torna mais um motivo para se afastar dos outros que o cercam.
Por serem excessivamente racionais e não compreenderem o que os outros sentem, acabam falando o que pensam e muitas vezes podem ser vistos como rudes e sem empatia. Outra característica que podemos citar é a dificuldade de se colocar no lugar do outro, pela dificuldade da imaginação.
Mais um ponto muito comum entre as pessoas que tem TEA é a sensibilidade sensorial. Ou seja, eles tem muita sensibilidade a lugares cheios, com barulhos e luzes. Se expor a esse tipo de estímulo o leva a exaustão, sendo mais tipos de situações evitadas por eles.
A agressividade é algo muito falado no TEA grave, porém de forma diferente, ela também pode se fazer presente no TEA Nível 1 – Leve. Em momentos de crise, pode ter uma explosão de raiva e muitas vezes pode voltar a agressividade contra si mesmo.
Lembrando que nem todos os portadores de TEA Nível 1 –  Leve têm todas as características acima. E muito menos significa que se você tem algumas das características acima, tem o transtorno. Existem ainda mais sintomas que podem ser incorporados ao TEA, mas os principais foram citados.
 
Por que as pessoas com TEA Nível 1 – Leve tem mais risco de depressão e suicídio?
Todos nós desejamos pertencer a grupos, sermos bem sucedidos e ter uma vida social ativa. Com as características acima, fica bem claro porque  portadores de TEA Nível 1 – Leve têm dificuldade em alcançar esses sucessos. 
Estar em socidade gera angústia e ansiedade, podendo levar a transtornos de ansiedade. 
Ser forçado a estar em uma sociedade feita para neurotípicos gera esgotamento, podendo levar à síndrome de burnout. 
A tristeza por não se encaixar no mundo somado ao desejo de pertencer, a ansiedade e o esgotamento levam uma parte dos portadores de TEA Nível 1 – Leve ao estado depressivo. Não sendo incomum que tenham pensamentos, ideações e ações (diretas e indiretas) suicidas.
A sensação de desesperança toma conta do indivíduo que acaba vendo na morte a única forma de alívio para suas dores.
Como ser neuroatípico e se encaixar no mundo para neurotípicos?
Será que é necessário realmente se encaixar no que a sociedade espera de você? Somos seres únicos e assim como quem tem TEA, todos tem suas características particulares. Umas mais aceitas em sociedade e outras menos. 
Trago essa questão pois quem tem TEA Nível 1 -Leve, não vai deixar de ter o transtorno, não vai mudar quem ele é. Mas com tratamento adequado ele consegue se compreender melhor, entender seu funcionamento, compreende que sim, ele pertence a um grupo de pessoas que são parecidas com ele e tem sofrimentos similares (nunca iguais).  Mas principalmente eles aprendem a respeitar seus limites e se aceitar como são. Isso faz toda a diferença para quem sofre com o transtorno. Fazendo terapia, a pessoa consegue encontrar o que precisa para que a vida seja menos dolorida. Existem outros tratamentos que podem ser aliados da terapia em casos de TEA Nível 1 – Leve, entre eles podemos citar psiquiatra, para aliviar com medicação sintomas ansiosos, depressivos e de raiva e terapeuta ocupacional para lidar melhor com as atividades do dia a dia.
Lembrando que para ter o diagnóstico e fazer o tratamento de TEA Nível 1 – Leve você deve procurar um especialista (neuropsicólogos, psicólogos, neurologistas, terapeutas ocupacionais ou psiquiatras aptos a dar e lidar com esse diagnóstico).

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