Paternidade: Aproveitando que Agosto é o mês do dia dos pais, vamos falar sobre a importância do pai na vida do bebê, segundo Winnicott.

Para quem se interessa pela psicanálise de Winnicott, temos um texto aqui no site que explica a teoria da “mãe suficientemente boa”, que não necessariamente é o papel da mãe biológica em si, mas de quem oferece os cuidados primários até a primeira infância da criança. Mas e o pai? O que o teorico discorre sobre a paternidade? Acompanhe em nosso texto.

Qual o papel paterno no desenvolvimento do bebê?
Os diversos papéis que o pai pode assumir no decorrer da vida do indivíduo variam conforme as necessidades de cada fase do desenvolvimento da criança dentro do âmbito familiar. O pai é visto como “segundo ambiente”, depois da mãe, onde a criança encontra segurança e com o qual conta para continuar amadurecendo.
 
No início da vida o bebê está ligado diretamente com a mãe (como já salientamos, independente do vínculo biológico com o bebê ou o gênero da pessoa que ocupa lugar de cuidador), é importante que o pai busque se fazer presente á sua propria maneira. É fundamental que a criança tenha duas posições que diferem características maternas e paternas, contribuindo para sua saúde mental.
 
Nos primeiros meses de vida, mãe e bebê necessitam de auxílio e cuidado, a função materna pode ser exaustiva, e neste momento a função paterna é fundamental para ambos, via comunicação, podendo ser uma comunicação silenciosa, profunda, com empatia, ajudando a observar e entender as adaptações da mãe e bebê. 
 
Se o pai consegue fornecer um ambiente de suporte emocional, parceria, divisão de responsabilidades, empatia e compreensão, a quebra da dependência materna e o nascimento da percepção paterna por parte do bebê começa a acontecer. 
 
Com o passar dos meses, o bebê que tem dependência absoluta da mãe e que nao consegue perceber que ele e a mãe são seres  “separados”, passa a entender esta divisão e a iniciar uma desadaptação materna e a presença do pai começa a ser mais aceita pelo bebê.
 
O pai muitas vezes quer ser presente porém, nem sempre é ele que decide sobre esta participação direta, mas sim o próprio bebê, que a medida que se separa da mãe e do ambiente total que criaram juntos, começa a reunir a figura do pai por determinadas qualidades que passa a diferenciar da mãe.
 
Não só os pais, mas tios, avós, professores, começam a introduzir para a criança a questão de regras e limites sociais, onde a criança começa a explorar sentimentos de ansiedade e enfrentar pequenos problemas nos relacionamentos interpessoais triangulares. Winnicott fala sobre relações triangulares quando a criança consegue perceber a existência de si, separada de outras duas pessoas (que no caso o autor coloca como o pai e a mãe).
A importância da convivência familiar.
Winnicott fala sobre a convivência familiar ser um preparo para a vida social, já que é dentro desta unidade familiar que se dão as experiências pessoais.
 
O pai em sua paternidade precisa exercer ações de proteção, intervenção e sustentação das relações familiares, inclusive nas brincadeiras e jogos da criança, conhecendo suas coisas, suas preferências, o que ajuda no desenvolvimento natural da imaginação da criança.
 
A sustentação do pai diante da mãe, se não acontece, pode atrapalhar ou sobrecarregá-la, impedindo-a de entrar ou mesmo permanecer no estado de preocupação materna primária pelo tempo necessário que a imaturidade do bebê exige.
 
“Ter ao seu lado alguém que está tão envolvido quanto ela com a criança, mas que ao mesmo tempo mantém os pés no chão, fornece à mãe um inestimável sentido de segurança.” (ROSA, p.75)
 
A disputa ou competição do casal pelo papel de mãe ou de pai prejudicam o amadurecimento da criança. Ao disputar por exemplo o lugar da mãe, o pai deixa de fortalecer a companheira quando se sente frágil ou em dúvidas sobre seu papel, fazendo com que a mãe se sinta insegura sobre suas capacidades para amparar e cuidar do bebê.
E quando o pai não se relaciona afetivamente com a mãe?
Ainda que os pais não compartilhem uma vida em conjunto, a necessidade de que cada um continue assumindo e se responsabilizando pelo seu papel junto à criança continua existindo. Espera-se que os pais consigam encontrar alguma forma de manter viva a estrutura familiar, de modo a encontrar meios para que essa base se perpetue e tenha consistência e coesão suficiente para enfrentar os contratempos da vida.
 
Da perspectiva da atualidade, que não é a do tempo de Winnicott, é claro que o surgimento de novas configurações familiares irá trazer alterações no que se refere às identificações que participam da constituição da identidade.
 
Poder contar com o pai e a mãe, cada qual no seu papel, ajuda a criança a desmistificar sentimentos sobre si e sobre o outro.
 
Referência: A paternidade em Winnicott (Claudia Dias Rosa, 2022).

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